Ao redor
de todo o mundo, educadores, pesquisadores e cientistas discutem e abordam o
tema da sustentabilidade como uma necessidade de tomada de consciência da
sociedade, afirmando que atitudes precisam fazer parte ─ cada vez mais ─ da
gestão de ambientes corporativos, políticos e educacionais.
No
entanto, embora diversas iniciativas louváveis façam parte do cenário deste
nosso milênio, muito ainda precisa ser feito, ensinado e conscientizado diante
da ameaça de escassez dos recursos naturais e da contaminação dos mesmos pelo
ser humano. Trata-se de discutir e de tentar viabilizar, na prática, a
sustentabilidade, a partir de um conceito maior e mais abrangente, que abarque
toda a sociedade e que não se restrinja a ações que se justifiquem pelo modismo
midiático.
Na
verdade, o tema da Sustentabilidade surge como um novo paradigma das sociedades
modernas nos anos 80, trazendo a crescente preocupação com o meio ambiente e
com a qualidade de vida no planeta. E embora toda a discussão seja necessária
em sua amplitude social, como é possível se pensar no futuro do planeta de
forma sustentável se o sistema educacional não estiver totalmente imbuído dessa
ideia enquanto viabilidade real e prática?
Quando
me refiro a uma escola sustentável com bio-construção, ou seja, uma escola onde
a energia solar seja transformada em energia elétrica, onde haja o reaproveitamento
de água de chuva, compostagem e agricultura orgânica, onde a coleta e reciclagem
de materiais descartáveis, assim como a aprendizagem sobre os recursos
necessários para a fabricação de embalagens e a produção dos mesmos seja alvo
de conhecimento prático, é porque acredito em uma escola que verdadeiramente
viva a sustentabilidade de maneira integral e não parcialmente como é possível
se verificar em diversos Projetos Educacionais desenvolvidos por algumas
escolas.
Penso
em uma escola cujo Projeto Político Pedagógico seja voltado para a
sustentabilidade, que aplique uma metodologia de aprendizagem que prime pela experiência
significativa, algo que possa ir além de preparar um jovem para exames de
vestibular, ou apenas para a sua qualificação para o mercado de trabalho.
É
preciso se pensar em um ser humano integral no qual mente, corpo, afetividade e
consciência social sejam desenvolvidos o tempo todo. Trata-se de uma inovação que
deverá produzir resultados diante de um novo estilo de viver. Por isso, há que
se pensar de maneira mais ampla sobre o conceito “Inteligência”, refletindo um
pouco sobre o que queremos desenvolver na criança e no jovem que passa boa
parte do dia na escola.
A palavra ou termo inteligência deriva do
latim intelligentĭa, que, por sua vez, deriva de inteligere. Ela é uma palavra
composta de outros dois termos: intus (“entre”) e legere (“escolher”). Neste
sentido, a origem etimológica do conceito de inteligência se refere a quem sabe
escolher. Ou seja, quem melhor se adapta ao meio psicológico, ambiental e
social em que vive, sabendo fazer escolhas certas para solucionar questões e
manter a sobrevivência. Uma pessoa inteligente é capaz de entender, assimilar,
elaborar informação e conhecimento, sabendo usá-los de forma adequada. A
inteligência não é uma capacidade inata; nascemos com todo o aparato
neurológico, mas não nascemos inteligentes: é algo que precisa ser
desenvolvido.
Nascemos
com todo o potencial para desenvolvermos nossa inteligência e nos adaptarmos,
cada vez mais e melhor, ao ambiente onde somos inseridos; no entanto, se não formos
estimulados de maneira correta por meio de alimentação, hábitos, habilidades e atitudes,
poderemos ter prejuízos em nossa formação e em nosso desenvolvimento.
Sustentabilidade
traz o conceito cuja origem vem do latim, “sustentare” que significa sustentar,
apoiar e conservar, ou seja, este conceito está relacionado a uma mentalidade,
estratégia ou atitude ecologicamente correta, viável no âmbito social e justo
diante da diversidade cultural que existe em nosso planeta.
Com a junção
dos dois conceitos ─ inteligência e sustentabilidade ─ é possível se pensar que
a real necessidade educacional, para o terceiro milênio é a Inteligência Sustentável.
Assim, ter Inteligência para escolher e fazer uso de Sustentabilidade como uma
estratégia de sobrevivência com qualidade de vida, com uma mentalidade ecologicamente
correta, fazendo uso de seu pensar, sentir e agir de forma a promover o bem
estar para si, para os outros e para os recursos naturais. É possibilitar que a
criança e o jovem possam viver e conviver em equilíbrio emocional, ecológico e
social, cujas atitudes sejam voltadas para o seu bem-estar e para o das futuras
gerações, respeitando os recursos naturais, a vida e a sociedade com ética.
Trata-se
de uma habilidade que precisa ser desenvolvida para mantermos a nossa
sobrevivência e a das futuras gerações. Mas como desenvolver este conceito de
inteligência sustentável? Promovendo estímulos
e atitudes para que os alunos, desde pequenos, aprendam conceitos de reutilizar,
de reciclar e de reduzir resíduos no dia a dia. Como educadores, só
conseguiremos desenvolver esses conceitos de forma real e prática, em uma
escola que seja preparada para isto, desde a sua construção física até o
Projeto Pedagógico envolvendo o currículo, a metodologia e a avaliação, todos
estes focados no aprendizado por meio da experiência.
Uma
escola de educação infantil direcionada para a sustentabilidade deve promover
atividades de reflexão pela experiência; por exemplo, em vez de educar para
reaproveitamento de água de chuva de forma teórica, as crianças terão em sua
instituição o recolhimento da água da chuva por meio de cisternas. Elas poderão
observar, nos telhados, que existem placas que captam a energia solar transformando-a
em energia elétrica; compreenderão a importância e o significado de se economizar
água e luz em prol de si e da comunidade local, tudo de forma real, pela
experiência.
Nesta
escola as crianças poderão plantar e cuidar de pequenos animais, aprendendo que
todos os seres vivos ─ além de nós mesmos ─ todos precisam de água para viver.
Trata-se de um aprendizado que vem pelo fazer prático, mexendo, manipulando,
percebendo... e não apenas pelos registros impressos de livros, desenhos,
figuras... Quando vivenciamos algo não nos esquecemos jamais, pois vivemos o
fato, de fato!
Uma Pedagogia
Sustentável pratica antes de teorizar; oferece e proporciona vivências e depois
educa trazendo os conceitos teóricos. É o contrário do que estamos acostumados
a verificar nas pedagogias tradicionais.
Para
que a Inteligência Sustentável possa fazer parte integral da metodologia e da aprendizagem
de uma escola, é necessário que essa escola abrace a ideia de que somente um
ser humano integral e integrado poderá agir em prol do bem estar da sociedade.
Somente indivíduos que aprenderam pela experiência e que foram respeitados em
sua integridade física, emocional, social e planetária é que poderão atuar de
maneira criativa e eficaz sobre a grande ameaça que paira sobre a nossa
civilização: a escassez dos recursos naturais.
Já
passou da hora de agirmos, como educadores, na formação de crianças e jovens
por meio do despertar da Inteligência Sustentável! É preciso que saibamos
contribuir com uma educação que seja capaz de compreender e gerenciar o
ecossistema, de produzir e adquirir os bens de consumo de forma consciente e
responsável, de enxergar e se integrar com as diferenças e diversidades de
maneira ética, humana e com amor!
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